quarta-feira, 1 de abril de 2009

CAPÍTULO I


Este era o primeiro dia de aula na pequena cidade onde a família Vasconcelos vivia. Débora acordou cedo para ir ao colégio, estava com saudades de suas amigas e de se envolver nas encrencas costumeiras, como era de seu costume. Ao chegar à aula de literatura, reuniu logo todas as meninas do seu grupo e comentou o tempo inteiro para as suas amigas como haviam sido suas férias.
O professor Jonas, meio incomodado com a conversa, não parava de olhar para ela, só que não manifestava raiva e tão pouco procurou pedir silêncio para aluna. E esta atitude foi interpretada por Débora de uma forma totalmente equivocada. A menina pensou que o professor estava interessado por ela. Principalmente por que o Jonas a olhava com uma certa mistura de raiva e encanto. Pois, realmente Débora era uma garota muito bonita, mas também não demonstrava atenção alguma a aula do professor.
Naquela mesma manhã de segunda-feira, Débora havia acabado de conhecer Vânia, uma menina muito inteligente e isso despertou o seu interesse, pois há muito tempo Débora não manifestava algum esforço em querer estudar. A garota havia percebido algo muito familiar nessa nova amiga, algo que trazia lembranças que atordoavam, mas ela não lembrava o que a fazia pensar nisso. A única coisa que a deixava intrigada com relação à Vânia era sua forma de olhar; penetrante, profunda. Assim como as suas outras amigas também perceberam, mas isso não a incomodava tanto, pois até então não representava nada para ela.
Aquele ano, fora o único em que Débora e Fernanda não estudaram na mesma turma, mas as salas de aula eram vizinhas e a todo o momento elas se viam. Principalmente nos intervalos das aulas e foi assim neste dia.
- Amiga, estou namorando. – disse Fernanda aos suspiros.
- Aah! Conte-me logo quem é? Estou morta de curiosidade. – Perguntou Débora, revirando os olhos.
- Ele é um gato, sabe?! – Fernanda suspirou novamente – É da minha religião e a mamãe concordou.
Fernanda era uma menina conservadora, que sempre procurava respeitar a opinião de Raquel, sua mãe e de sua religião que era muito rigorosa, por esse motivo ela buscava procurar um namorado que a pertencesse também. Ela e Raquel viviam sozinhas desde que seu pai havia falecido e sua mãe nunca se interessou por um outro homem. Sobrevivendo de uma pensão fornecida pela PETROBRAS, empresa, a qual, Marcelo trabalhava e aonde viera a falecer.
- Que bom, amiga. Fico muito feliz por você. – disse Débora, saindo às pressas para a ultima aula do professor Jonas.
Assim arrastaram-se as semanas, Débora a cada dia procurando motivos para está perto do seu professor de literatura e Jonas, por sua vez, demonstrando uma certa atração pela jovem aluna.
E todo aquele encanto e desejo que Débora acreditou que Jonas estava sentindo por ela despertou algo diferente na menina, mas ela não entendia o que poderia ser. Ora julgava ser paixão, ora julgava ser amor, a única certeza era que Débora estava gostando da situação, apesar disso mexer com suas estruturas. E na realidade Jonas não sentia nada pela garota, além talvez de um desejo sexual, que surgiu muito depois deles se conhecerem, principalmente pela forma como ela insinuara-se para o professor.
Mas esse novo sentimento também despertava medo, indecisão. Fazia um ano que Débora vivera um relacionamento muito complicado, tornando a menina mais traumatizada, vulnerável, pois seu fim foi trágico. E até então a polícia não havia resolvido esse caso e Débora era uma das suspeita do assassinato do seu namorado. Um crime que chocou a pequena cidade e que mostrou o quanto às drogas está adentro das menores das sociedades. Mas com muito esforço próprio a menina conseguiu voltar à rotina normal, mesmo com as estruturas psicológicas um tanto abaladas.
Contudo, Débora via em Jonas a possibilidade de apagar do seu passado essa mancha negra, que a atordoava tanto. Afinal seus sentimentos eram diferentes, mesmo sendo platônica essa paixão foi crescendo, criando raízes e Débora sonhava cada vez mais. Para a menina era a maior felicidade o simples fato do professor dizer para ela que a achava esperta e simpática. Mas pela primeira vez esse foi um sentimento exclusivo dela, Débora preferiu não dividi-lo com ninguém, nem mesmo com Fernanda que estava dedicando-se inteiramente ao seu novo namorado.
- Amiga você está me abandonando. – resmungou.
- Ah, Débora... Você também não vai mais em minha casa.
- Pois bem, então vamos tomar um sorvete hoje.
- Hoje não vai dar, Débora. – falou um tanto penosa – Vou ao culto da igreja com Samuel.
- Eu não disse! Você não quer mais saber de mim, Fernanda.
- Débora você não vai me entender nunca, não quer namorar ninguém. – reclamou – Há um ano só quer saber de ficar, isso não é coisa de menina direita, sei lá, tenta namorar o Roberto!? Quem sabe não dar certo?
- Fala sério, Fernanda! O Roberto é o maior mane do colégio!
Riram.
- Mas mesmo assim é o único que se interessa pelo vestibular da sua turma. – Fernanda continuou a rir.
- Minha querida, estou em outra. – Débora ainda ria também.
- Quem? Fala-me?
- Espere que mais cedo ou mais tarde todos vão ficar sabendo. – Débora fez cara se suspense – E vê se pára de ficar arrumando um montão de babacas para eu namorar. O teu é um gostosão e você só ma dá bombas.
Riram mais ainda.
Mais tarde, ao chegar em sua casa, Débora pensou em varias maneiras de conquistar o coração de Jonas. Desde muito tempo, ele era parte exclusiva dos seus pensamentos. Até que a menina teve uma idéia maluca, correu para o telefone e convidou o colégio inteiro para uma festa no sitio de sua mãe.
O plano era simples, Débora convidaria todos os seus amigos e professores, para que ninguém percebesse o seu verdadeiro interesse. Por último, ligou para seu amado professor e para Fernanda, que estava com o telefone ocupado em todas as vezes que a amiga ligou – Deve está falando com o gato do Samuel. – disse em pensamentos, que ainda estavam direcionados em Jonas.
Na hora do jantar, a menina esperou pelo momento mais propício da ocasião para conversar com Tereza a respeito de sua festa no sítio.
- Mamãe, darei uma festa no sítio, tudo bem? – Débora olhou para as suas mãos que estavam sobre a mesa.
- Claro que não. – hesitou – Você sabe perfeitamente que tenho ciúmes de tudo que é meu!
- Ah, mãe! Já chamei a turma inteira. – a menina fez cara de choro.
- Não me importa se você chamou seus amigos inconvenientes, Débora.
- Mas os fotógrafos daquela revista local que você sai todos os meses vão está lá! – Débora sabia que essa tática era infalível.
- A revista vai está lá? – Tereza a olhou com interesse.
- Sim e vai ser maravilhoso. – Débora ria consigo mesma.
- Tudo bem Débora, mas nada de bebidas alcoólicas. Espero que ainda lembre dos últimos acontecidos. Essa história com aquele miserável do Tony que nunca acaba, não nos dá paz. – a mulher ficou com uma expressão raivosa – Está me ouvindo? Nada de bebidas e nada de drogas, mocinha!
- Mãe, eu já te avisei que não quero mais ouvir falar deste assunto. – Débora irritou-se.
- Está certa, mas nada de drogas em meu sítio. Está me ouvindo?
Débora levantou-se da mesa enquanto sua mãe terminava esta frase, deixando todo o seu jantar, embora com uma expressão de que estava concordando com as suas exigências. Na manhã seguinte, logo cedo como estava sendo de costume, Débora já estava pronta para ir ao colégio. Eduardo, seu motorista, já esperava pela garota na porta de sua casa, quando recebeu um telefonema que o deixou nervoso. Mas procurou superar esse nervosismo.
A caminho do colégio, Débora pegou o seu telefone celular e começou a ligar para algumas pessoas que organizavam festas particulares, iguais a que ela pretendia fazer. Eduardo que já dirigia calmamente devido ao horário fitava-a pelo retrovisor do carro. O seu olhar era do tipo que não podia ser decifrado, talvez nem mesmo ele soubesse o que tanto admirava em Débora. Mas essa admiração ficou guardada para si, como em todos os dias que a levava para onde fosse.
No colégio, o comentário do dia era a festa que Débora estaria dando. Mas a menina não parou para escutar. Seu único interesse era encontrar o professor Jonas, que estava dando uma rápida explicação do assunto dado na aula passada para algumas alunas do terceiro ano.
- Licença. – interrompeu-os Débora.
- Olá Débora. – respondeu Jonas – Toda licença do mundo para você.
As alunas saíram pelo canto. Débora ficou com as maçãs da bochecha vermelha de vergonha e alegria.
- Desse jeito professor eu fico convencida de muita coisa. – provocou.
- Mas esse não é o lugar para discutirmos isso, não acha? – Jonas lançou um olhar cínico para a menina.
- Concordo. – Débora precisou segurar na coluna que sustentava o telhado do corredor do pátio.
- Bom, afinal para que me procura?
- Só queria saber sua resposta a respeito do convite que o fiz ontem à noite, lembra?
- Claro que lembro. – ele sorriu – Mas, infelizmente não poderei aceitar o seu convite, já tenho um compromisso para essa data. Fica para uma próxima vez.
- O que? – Débora ficou em pânico – Não, Jonas... Aliás professor... Você é meu convidado vip! Você tem que ir.
- Realmente eu lamento.
- Ah, eu mudo a data então – a menina tentava encontrar uma solução.
- Mas Débora, você não pode mudar a data de sua festa por minha causa.
- Claro que posso. – ela o encarou.
- Mas... – Débora o interrompeu novamente.
- Nem mais, nem menos mais. Quando você poderá ir? – essa pergunta deixou o professor sem graça e impressionado, mas acabaram entrando em um acordo.
Mais tarde, no intervalo.
- Ah, Fernanda como estou feliz...
- Feliz com o que, amiga?
- Eu não te disse?! Estou amando e percebo que estou sendo correspondida. – dessa vez era Débora que estava aos suspiros.
- Agora sim, estamos falando a mesma língua! – Fernanda começou a rir baixinho.
Nesse instante Vânia apareceu interrompendo a conversa das amigas.
- Oi meninas. – disse alegremente.
- Oi Vânia! Sente-se, tenho mesmo que te falar uma coisa. – respondeu Débora.
- Pode dizer, Débora. – Vânia a olhava da mesma maneira penetrante.
- Daqui a dois meses darei uma festa e você está convidada! – Débora desviou os olhos.
- Que legal. Irei marcar presença – respondeu com mais alegria.
E assim passaram-se os dois meses programados para a festa que Débora tanto desejava. Muitas coisas tinham mudado, mas Débora não queria saber de mais nada que não fosse sua festa e o seu amado professor.