quarta-feira, 25 de março de 2009

Romance

TUDO DE MIM


Prólogo
1989

Era à tarde de um domingo ensolarado de verão. Débora brincava na areia da praia enquanto seus pais brigavam por algum motivo não aparente. Até que ela viu Tereza chorar ao ser estapeada por Daniel e também chorou ao vê-lo apontar uma arma para a mulher, ouvindo-se um barulho de tiro em toda a praia. A menina secou as lágrimas e olhou impressionada, o tiro atingira sua mãe.
Todos correram para ver, nesta época do ano a casa de praia da família Vasconcelos ficava lotada de amigos, que puseram Tereza em uma ambulância e trataram de acalmar Daniel que permaneceu ali, chorando e transparecendo uma mistura de feições que confundiam ódio e um estado de alcoolização. Mas ninguém se lembrou da criança, que se viu sozinha e desprotegida em meio àquela confusão.
Tereza foi levada a um hospital. Raquel, que era uma das amigas da família, foi junto. Ela e seu marido estavam passando as férias na casa de praia do casal. Tereza foi medicada e passou por uma cirurgia urgente. Os médicos conseguiram retirar a bala que estava alojada na coluna vertebral dela, mas esta, por sua vez, ficaria inválida pelo resto da vida sobre uma cadeira de rodas.
Mais tarde, Raquel buscou Débora e a levou para sua casa, onde estava a sua filha Fernanda com a babá, até que sua amiga pudesse sair do hospital.
Desde então a vida dessas pessoas jamais seriam as mesmas e Débora nunca soube o motivo real da atitude desumana do seu pai.

Alguns anos depois – 2003

− Fernanda, tenho uma coisa muito louca para te contar!
− O que? Diga logo.
− Ah, deixa a Elô e a Luana chegarem!
Débora fazia um clima de mistério. Fernanda estava tomada por uma curiosidade enorme quando as amigas chegaram, mas ela sabia que Débora era maluca e que tudo para ela era uma loucura.
− Meninas, estou apaixonada! – disse Débora – Na verdade, estou amando mesmo. Cara o olhar dele me fascina, até acho que já o vi em algum lugar. Mas não consigo lembrar-me onde.
− Deve ter sido em outro planeta! – disseram as amigas com um certo desânimo – E quem é a nova vitima? – riram.
− Ah, é o… Deixem pra lá! Tenho que ir, o motorista chegou.
Débora era uma garota muito bonita, tinha dezessete anos e estava sempre se apaixonando por qualquer um, algo típico de sua idade. As únicas coisas que a deixava triste eram a ausência de seu pai e a invalidez de sua mãe, que foi causada por ele.
Tereza e Daniel nunca foram um casal apaixonado de verdade, na realidade os dois casaram por puro interesse por parte de Daniel, que desde o que ocorrera na praia não viveram mais juntos e fizeram daquele dia um mistério nunca revelado a ninguém. Porém essa foi à única coisa que fez ambos entrarem em um suposto acordo e viverem passionalmente. Mas não o suficiente para saciar uma revolta que cresceu junto com a jovem Débora.
Talvez sendo este o motivo que a tornou uma menina impulsiva, inconseqüente e apesar de ser uma menina muito rica, não tão ambiciosa quanto a mãe. Que depois de ser aposentada pela PETROBRAS e receber uma herança dos seus pais, que morreram após um naufrágio em uma pescaria, deixando tudo para a única filha (questão de alguns milhões de dólares que acumularam com uma bem-sucedida empresa especializada em materiais de pescaria marítima). Tereza nunca mais pensou em outra coisa, a não ser em dinheiro e em seus inúmeros amantes.
− Oi mãe! Está bem hoje? – Débora perguntou um pouco intrigada.
− Oh, sim… Claro! – respondeu Tereza, que estava recebendo seus massagistas em sua casa – Seu pai ligou dizendo que queria vê-la este final de semana!
− Nem pensa nisso! Já combinei de sair com as minhas amigas.
O Telefone tocou, era Daniel novamente. A empregada atendeu e passou o aparelho para a patroa mais jovem.
− Alô! – disse Débora – O que você quer papai?
− Minha filhinha, irei apanhá-la hoje a tarde, tudo bem?
− Não!!! Vou sair com as minha amigas, que se preocupam comigo de verdade e não pelo meu dinheiro como você!
− Mas Débora, como… − Daniel tentou não engrossar o tom de voz.
− Papaizinho, vai te fuder!!!
Escuta-se um alto barulho de telefone sendo desligado. Em seguida Débora foi para o quarto com muita raiva do pai. Enquanto Tereza vibrava na sala com a atitude da filha para com Daniel.

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